A comunidade de musicoterapeutas no Brasil tem refletido e se posicionado em relação à campanha da Dorflex, intitulada “Dorflex Music Experiment”. Esse foi o caso da musicoterapeuta Michelle de Melo (APEMESP 1-010473), quem gravou um vídeo explicativo. Nossa Nota vem colaborar com essa reflexão acerca do tema Música e Dor, a partir do campo da Musicoterapia.
A Musicoterapia é a ciência que utiliza a música e a relação terapêutica para alcançar diversos objetivos, de maneira sistemática e com base em evidências científicas e em teorias da Musicoterapia. X profissional habilitadx a exercer a Musicoterapia no Brasil é x musicoterapeuta, quem tem graduação ou pós graduação latu sensu reconhecidos pelo MEC – de acordo com a CBO 2263-05 do Ministério do Trabalho e Emprego.
Dentre os objetivos da Musicoterapia com pessoas com dor, destacamos o controle, o alívio, a diminuição e o desaparecimento da sensação de dor.
Diferente do uso da música nos cuidados de enfermagem e áreas afins (1) — como o proposto pela campanha– , x musicoterapeuta utiliza a música de maneira não prescritiva e de acordo com cada ser humano que elx atende. Isso significa que a maneira de utilizar a música e mesmo o repertório musical a ser desenvolvido no atendimento vai variar de acordo com critérios, dentre eles: a reação dx participante frente a diferentes sons, a reação delx frente à dor, sua história de vida, e preferências musicais.
Sobre a comprovação do uso da Música na diminuição da sensação de dor, uma revisão sistemática de 2006 pelo grupo Cochrane reuniu estudos clínicos randomizados das área de Música e Medicina e da Musicoterapia (2). A conclusão dos pesquisadores foi que a escuta musical reduz a sensação de dor e o uso de medicamentos, porém a significância é ainda pequena, trazendo conclusões ainda imprecisas para a prática clínica.
Como musicoterapeutas, entendemos a dor como um fenômeno com interações complexas, envolvendo experiências passadas, atenção, aprendizado, estado emocional, apoio social, além do estado físico de quem a sente (3). Porque a dor é um fenômeno holístico, assim como a música, pesquisar o assunto se torna um desafio tão complexo quanto necessário. O que sabemos hoje é que a eficácia do uso da música com pessoas que sentem dor está em vias de comprovação pelos musicoterapeutas, que consideram tanto os campos subjetivos e objetivos: a relação com a dor, com a vida, com o terapeuta e com a música, assim como instrumentos de medida de dor são alguns desses campos.
Dentre as técnicas de controle de dor com eficácia comprovada por alguns estudos e utilizadas por musicoterapeutas qualificadxs, destacamos: entrainment (4); e improvisação e escuta musicais após relaxamento (5).
Salientamos, também, que x musicoterapeuta não necessita atrelar sua prática acompanhada ou de maneira complementar a fármacos para alcançar benefícios. Pelo contrário, o uso de técnicas musicoterapêuticas por profissional qualificadx podem, inclusive, diminuir o uso de medicamentos para o alívio da dor. Entretanto, tal profissional trabalha de maneira interdisciplinar em diversos equipamentos de saúde, aonde ele faz trocas importantes com profissionais da medicina, psicologia, serviço social, fisioterapia, terapia ocupacional, educação física, fonoaudiologia, dentre outros.
Usar a música em contextos terapêuticos tem também contraindicações. Em uma reflexão sobre esse tema, o musicoterapeuta Gattino (6) salientou efeitos negativos devido à escuta de música que x ouvinte não gosta, a padrões musicais desconhecidos ou repetitivos para elx. Isso demonstra novamente a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade, de prescrever música para um determinado estado ou determinada condição, como é o intuito da campanha da Dorflex.
Portanto, ao nos debruçarmos sobre o tema de Música e Dor, é fundamental nos perguntarmos: qual música? como é essa dor? quem a sente? como ela se relaciona na vida? quais suas principais formas de combate?
É a partir dessas perguntas que x musicoterapeuta trabalha, de maneira em que x maestrx da música para alívio ou extinção de sua dor será você!
Você tem dor e gostaria de conhecer a Musicoterapia como tratamento?
Consulte um/a musicoterapeuta!
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Referências
(1) DILEO, C. Music Therapy and Medicine: Clinical and Theoretical Applications. Silver Spring, MD: American Music Therapy Association, 1999.
(2) CEPEDA, M. S., CARR, D. B., LAU, J., ALVAREZ, H. Music for pain relief. In Cochrane Database of Systematic Reviews, vol. 2, 2006. Art.No.: CD004843. DOI: 10.1002/14651858.CD004843.pub2.
(3) SELM, M. E. Chronic Pain: Three Issues in Treatment and Implications for Music Therapy. In Music Therapy Perspectives, vol. 9, 1991.
(4) UHLIG, S. Pain Management through Voicework and Music Psychotherapy. New York, 2001.
(5) GUTGSELL, K. J.; SCHULTCHTER, M.; MARGEVICIUS, S.; DEGOLIA, P. A., MCLAUGHLIN, B.; HARRIS, M.; MECKLENBEURG, J.; WIENCEK, C. Music Therapy Reduces Pain in Palliative Care Patients: A Randomized Controlled Trial. In Journal of Pain and Symptom Management, vol. 45, no. 5, Maio 2013 DOI: 10.1016/j.jpainsymman.2012.05.008.
(6) GATTINO, G. S. Algumas considerações sobre os efeitos negativos da música.
Revista Música Hodie, Goiânia, V.15 – n.2, 2015, p. 62-72.
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